Desinvestimento: Um gambito de negócios

M&A

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Por Carlos Parizotto

O gambito é um movimento no xadrez em que se sacrifica uma peça com o objetivo de uma vantagem posicional subsequente.

No universo de M&A há inúmeras variações do ponto de vista de motivações, etapas e dinâmica negocial. Uma situação interessantemente particular são os desinvestimentos, uma forma de “sacrifício” em prol de vantagens futuras.

Um desinvestimento é caracterizado pela alienação de uma empresa, unidade de negócio ou ativo de um grupo. Tipicamente envolve uma atividade que não corresponde mais ao negócio principal (core business) deste grupo.

Um exemplo bastante ilustrativo deste tipo de processo no Brasil foram os desinvestimentos realizados pela Petrobras nos últimos anos. Muitas de suas operações de refino e de águas rasas foram alienadas à iniciativa privada, permitindo um maior foco na sua atividade principal de extração em águas profundas. 3R Petroleum e PetroReconcavo são exemplos de empresas que adquiriram ativos neste movimento, acelerando com este processo seus planos de crescimento.

O caso da Petrobras é notório, porém não é o único.

Operações de desinvestimento vem ganhando destaque no Brasil, motivados pelo interesse de investidores nacionais e estrangeiros. Estes encontram nestas operações a oportunidade de expansão em escopo, em escala ou geográfica. E sendo o ativo-alvo parte de um grupo mais estabelecido, riscos típicos em M&As como tributários, trabalhistas e contábeis tendem a ser minimizados. Destaca-se inclusive a existência de investidores financeiros especializados em “corporate carve outs”.

Há também diversas motivações que podem fazer essa estratégia ser interessante para vendedores:

  • Focar na atividade principal: Um exemplo de desinvestimento com esse intuito é o do Grupo Ultra, conhecido pela rede de postos Ipiranga, que anunciou a venda da Oxiteno – empresa do segmento químico e da rede de farmácias Extrafarma. Dessa maneira, focando no core business de distribuição de combustíveis
  • Gerir um portfólio de ativos: Reequilibrar o portfólio diversificado da empresa, focando em ativos com melhor relação retorno e risco. Um exemplo deste tipo de desinvestimento é o da BIC, multinacional francesa que vendeu sua operação de embalagem adesiva Pimaco para o Grupo CCRR. Tal transação foi consistente com a estratégia de portfólio global. A Cypress assessorou a BIC nessa transação
  • Captar recursos: Capital adicional pode ser importante para diminuir a alavancagem, investir em ativos e capital de giro, ou pagar dividendos extraordinários para os acionistas. Um exemplo é o da Natura. Após LVMH e L’Oréal demonstrarem interesse em comprar participação na  Aesop, ações da Natura subiram significativamente com recepção positiva do mercado frente a potencial redução do endividamento da empresa
  • Aumentar o valor da companhia: O desinvestimento pode gerar parâmetros mais (ou menos) favoráveis de valuation, o que por sua vez pode potencializar a avaliação do mercado sobre o restante da companhia
  • Para evitar incerteza macroeconômica: Um exemplo é a americana CVS que vendeu a rede de farmácias Onofre para a Raia Drogasil e deixou o mercado brasileiro depois de 6 anos
  • Para cumprir exigências regulatórias: A ArcelorMittal teve que vender ativos para a Gusa Nordeste, para que pudesse finalizar a aquisição da Votorantim Siderurgia

Independente dos motivos que levem o seu grupo ou empresa a optar pela estratégia de desinvestimento, é fundamental a adoção de planejamento e execução adequados. Um movimento errado no tabuleiro pode comprometer o sacrifício empreendido.

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